Que Saudades!
Era eu pequeno, e nas minhas traquinices próprias
da idade, divagava pela cidade, ora de amarelinho,
(como eu lhes chamava), ora nos elevadores, Bica, Glória ou Lavra.
Visitava todos os bairros. Ia desde Alfama até ao Bairro Alto. Brincava no Castelo,
e imaginava as lutas travadas contra os mouros para conquistar Lisboa.
As minha recordações são tantas. Que saudades da minha Lisboa de outrora!
Que saudades! Das varinas com a canasta à cabeça, anunciando com os seus pregões, o peixe fresco, que todas as manhãs chegava a bordo das traineiras. A sardinha, o carapau até o chicharro eram os peixes mais vulgares.
Que saudades! Dos ardinas, que também com os seus pregões, nos davam a conhecer as notícias desta terra.
Que saudades! Dos amoladores, que com a sua flauta, nos convidava a trazer as facas e tesouras para amolar. Se por acaso havia um alguidar rachado, também era reparado na hora. Eram utilizados uns grampos em forme de “U”. As suas ferramentas eram eles quem as fazia.
Também os chapéus-de-chuva eram eles quem reparava.
Que saudades! Da azafama matinal, que outrora nesta cidade era impressionante.
No mercado da Ribeira, à beira do Tejo, vendiam-se, desde as flores até às galinhas.
Os lisboetas menos afortunados juntavam-se, e iam até ao Terreiro do Paço, no antigo
Cais das Colunas, tentar a sua sorte à pesca. Lisboa tinha o cheiro do Tejo,
que misturado com outros, lhe dava um odor Característico,
do qual ainda hoje tenho saudades, e guardo dentro de mim.
Tenho saudades da minha Lisboa de antigamente.
Não posso esquecer-me da noite lisboeta.
Os cinemas e teatros estavam sempre cheios.
Os lisboetas andavam num corrupio de um cinema para outro. O Parque Mayer,
era um mundo diferente. Lá havia de tudo. Tantos Teatros e tantas diversões.
Hoje quando me sento a olhar para Lisboa, sinto uma melancolia, umas saudades do passado…
Que saudades!!!
C.G.
Março/2007